No terceiro post do blog, depois de sua volta, falaremos sobre a mania do momento, se tratando de cinema: Os Filmes de Heróis dos Quadrinhos.
Os super-heróis nasceram e cresceram à sombra da Segunda Guerra Mundial. A uma luta sangrenta, gente como o Superman, o Capitão América e outros menos conhecidos acrescentaram um toque (ou mais que isso) de fantasia. De início, eles figuravam nas páginas de quadrinhos, vendidos a míseros centavos. Assim conquistaram um grande público, criando um nicho de fãs que perdurou até o advento das mídias sociais.
Entre o final da década de 90 e o início do século XXI, após tentativas anteriores, fizeram sucesso também na telona, graças aos avanços tecnológicos que "possibilitaram" a existência dos poderes desses heróis. Mas por que fazem tanto sucesso ?
Os heróis sempre estiveram bem próximos a realidade. Apesar de comumente serem dotados de força extraordinária por obra da natureza ou do acaso, representam uma época ou situação vivida pela sociedade, como uma grande, bem formulada e artística metáfora. Sua característica mais frequente é a necessidade de manter sua real identidade em segredo, fazendo um pivô com a ideia de que "parecemos fracos mas, na verdade, somos invencíveis".
Goku, quando criança |
Batman e Robin, da década de 60 |
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Richad Lester, como Superman |
Batman, de Tim Burton |
Estranho fenômeno, aliás: num determinado momento, o melhor do cinema americano, ao menos do cinema americano de massa, veio dos filmes para crianças: de "Fuga das Galinhas" a "Toy Story", passando por esses em que o peixinho se perde do pai, ou em que a natureza sai dos eixos. Filmes com fantasia, dignidade, material para reflexão e que, acima de tudo, serviam fantasticamente ao "negócio", o business: dava para levar os filhos e também os pais: dava para três gerações da família.
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O primeiro Toy Story |
O Aranha ilustra bem, no entanto, a capacidade da indústria de cinema atual de vulgarizar tudo em que toca. Peter Parker é talvez o mais fascinante dos super-heróis porque o mais frágil. Não goza dos efeitos milagrosos de ter nascido em Krypton ou similares. Tudo de que dispõe é de uma teia. Que lhe permite voar de prédio em prédio, que lhe dá força animal, mas, ao mesmo tempo, é o lugar onde se enreda sua vida. Quanto mais heroico, mais perseguido pela mídia, mais incompreendido por seus semelhantes. Quanto mais apaixonado (e objeto de paixão), mais deve ocultar-se da amada.
O Homem Aranha da primeira trilogia |
Os super-heróis hoje sustentam o cinema de grande espetáculo por virtudes como derrubar prédios, salvar navios do naufrágio, aviões da queda, trens do descarrilhamento, isto é, coisas que o descolamento progressivo da realidade, a ausência de tensão entre fantástico e mundo real propiciam.
Os super-heróis, tal como concebidos nos anos mais recentes, garantem a glória da Marvel e a sobrevivência dos estúdios, é verdade. Mas ajudam a fazer do cinema uma diversão de segunda classe: o lugar onde a gente vai por falta do que fazer, depois das compras, para se encher de pipoca ou passar mensagens pelo celular.
Eu me incomodo, é verdade, mas o cinema não dá a mínima bola para mim. Assim sobrevivem as grandes produções, assim garantem-se as filas do domingo. Eu mesmo às vezes gosto mais de ir lá para ficar vendo as filas: nada mais triste do que o cinema sem elas.
Referência Bibliográfica